terça-feira, 30 de novembro de 2010

Caracteristicas da doença

Perda de memória 
 
 
Um defeito grave da capacidade de memória, como o que existe na Doença de Alzheimer, pode ter repercussões em múltiplas actividades e funções. Citam-se as dificuldades de comunicação, riscos de segurança, alteração nas actividades de vida diária e alterações de comportamento. É importante considerar as diversas componentes ou tipos de memória para compreender como esta função está comprometida na demência.



 

 Memória episódica

       Refere-se à capacidade de recordar eventos que ocorrem na vida das pessoas, desde os mais mundanos, aos mais pessoais e significativos. A memória episódica pode ainda ser classificada em memória recente – referente a acontecimentos que ocorreram nos últimos minutos ou horas – e memória remota – eventos mais distantes no tempo. Uma característica notória para todos os que lidam com doentes com Alzheimer, é a de que nas fases iniciais da doença as pessoas parecem não ter dificuldades em lembrar acontecimentos distantes, ao mesmo tempo que são incapazes de recordar o que fizeram cinco minutos antes. Além disso, e precisamente porque as memórias antigas estão relativamente conservadas e existe um defeito muito grave da memória recente, aquelas tendem a interferir com o presente de uma forma activa. Por exemplo, as pessoas podem como que recuar no tempo e executar rotinas do passado, que, como é óbvio, são perfeitamente desadequadas no tempo presente.

Memória semântica

       Esta forma de memória refere-se à capacidade de conhecer o significado das palavras, como por exemplo flor ou cão. Assim, e ao contrário da memória episódica, é comum a todos os que falam a mesma língua, agindo como elo de ligação e permitindo a comunicação entre as pessoas. Além disso, estes dois tipos de memória utilizam circuitos ou redes neuronais próprios e com localizações cerebrais diferenciadas, sendo por isso afectadas de uma forma não homogénea. Na Doença de Alzheimer a memória episódica é mais precocemente e mais severamente atingida que a memória semântica, enquanto que em determinadas formas de demência fronto-temporal se verifica o contrário.

Memória de procedimentos

       Corresponde à memória e conhecimento consciente ou inconsciente das diversas etapas, em termos de processo físicos e mentais, que conduzem aos actos. Como exemplos citamos o uso de uma faca ou andar de bicicleta. A alteração da memória de procedimentos pode resultar em dificuldades em efectuar rotinas, tais como o vestir, lavar ou cozinhar. Esta forma de memória é a mais poupada nas situações demenciais, e o seu perfil de afectação é semelhante ao verificado com outras funções: primeiro os actos mais complexos e por fim as actividades designadas como automáticas, ou seja, as coisas muito bem aprendidas e que nos habituamos a fazer sem ter de pensar. A dissociação temporal entre o comprometimento da memória semântica (afectada mais precocemente) e a memória de procedimentos (a mais resistente) permite compreender a capacidade dos doentes para cantar correctamente e com fluência, quando são incapazes de nomear objectos ou manter uma conversa. 


O Sindroma Apraxia/Afasia/Agnosia

Apraxia
 
      É o termo usado para descrever a incapacidade para executar gestos aprendidos, apesar da integridade da força muscular, da sensibilidade e coordenação. Em termos práticos implica a perda de capacidade para abrir uma torneira, abotoar botões, ligar o rádio ou fazer adeus.

Afasia
 
      Refere-se à dificuldade ou mesmo perda de capacidade para falar ou compreender o código linguístico, quer na forma de comunicação oral, quer escrita. Exemplos de perturbações precoces habituais na Doença de Alzheimer são a anomia (dificuldade em dizer o nome de um objecto) e a troca de palavras ou parafasias. A troca pode verificar-se entre palavras associadas pelo significado (tempo em vez de relógio), entre palavras que têm uma sonoridade parecida (barco em vez de marco), ou o doente utilizar uma palavra completamente diferente e sem relação aparente com a que deveria ser correctamente escolhida. No seu conjunto, estas alterações e os defeitos de compreensão, prejudicam de uma forma significativa a capacidade de comunicação do doente. Nas fases mais avançadas o discurso fica habitualmente restringido à repetição involuntária de palavras ou frases ditas pelo interlocutor (ecolália), ou à repetição, eventualmente compulsiva, de uma palavra ou fragmentos de palavras. O defeito da escrita e da leitura acompanham a alteração da linguagem falada, pelo que é frequente, em fases avançadas, que o doente seja incapaz de identificar (por leitura) ou escrever o seu próprio nome.

Agnosia
 
      É o termo utilizado para descrever a perda de capacidade para reconhecer a informação captada pelos sentidos o que conduz a comportamentos bizarros. Por exemplo, uma pessoa com agnosia pode utilizar uma faca como uma caneta, ou um sapato como se fosse uma chávena. No que diz respeito às pessoas, esse facto pode implicar que as não reconheça pelas suas características faciais individuais, ou seja, sem que isso se deva à perda de memória, mas como resultado de dificuldades em interpretar as suas percepções ou impressões visuais.

Alterações da personalidade
 
      As pessoas com Doença de Alzheimer podem mudar as características básicas da sua personalidade: uma pessoa calma, afável e educada pode passar a comportar-se de uma forma agressiva, impaciente e egoísta. São também frequentes as mudanças bruscas de humor.

Alterações da actividade ou do comportamento
 
      A manifestação mais frequente neste domínio é, talvez, a deambulação diurna e nocturna. A deambulação pode ter muitas causas, nomeadamente a necessidade fisiológica de movimento, ou a insónia, mas a identificação dessas causas é habitualmente dificultada pelos problemas de comunicação apresentados pelos doentes. São exemplo de outras perturbações afins, a agressividade e as alterações do comportamento alimentar.

Problemas físicos
 
      Na Doença de Alzheimer a perda de peso pode ocorrer apesar de uma ingestão adequada de alimentos. Também pode ser uma consequência de uma dieta desequilibrada (sobretudo em doentes que vivem sozinhos e já não sabem cozinhar), ou, nas fases tardias, por problemas de deglutição. Uma outra consequência da doença é a redução da massa muscular. O acamamento e o envelhecimento tornam estes doentes também especialmente vulneráveis a infecções, nomeadamente a pneumonias e infecções urinárias. As pneumonias são aliás as intercorrências mais frequentemente fatais na Doença de Alzheimer.
 


   http://www.serafimcarvalho.net/sm01.asp?idp=4#3

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